terça-feira, 9 de julho de 2013

Dias nublados de primavera.


Que frio sinto em plena primavera parisiense.
És o segundo dia nublado em Paris.
As flores perderam o brilho de suas cores,
algumas até aparentam estar congeladas,
tamanho o frio que tem assolado a cidade, a minha cidade.
Dias de outono, em plena primavera? Isso é confuso.
"Chorei, chorei, chorei, até ficar com dó de mim,
me tranquei no camarim, tomei um calmante, excitante...",
como certa vez escreveu o poeta tal expressão imortalizada.
O céu nublado transfigurou uma eterna noite ao meu redor.
Tudo estava escuro. As horas passavam, passavam, passavam...
e eu ali, estático, imóvel. O novo paralisa, nos deixa estáticos, talvez até nos tire a coragem de encara-lo.








A velha que vivia a fiar, na estória da Bela Adormecida, me apareceu tão singela,
querida, boa, simpática, desejando que convivêssemos em paz, que pensei: Estranha atitude. Ela pensa que não conheço sua estória?
Mas era o início de uma nova jornada, ela já havia cumprido seu objetivo de vida,
vai que tivesse mudado e se arrependido, não é?
As pessoas merecem uma nova chance, afinal mudanças acontecem.
viver em paz com ela, aceitá-la e até ser gentil, chamei a atenção dos seres que ali viviam.

Todos ficaram contente com a nova presença que ali estava.
Eu fazia sucesso entre eles. Conversávamos por horas,
tratava-os com tamanha educação e gentileza,
que logo os elogios vieram e chegaram aos ouvidos da minha velha colega.
Juro que nunca quis tomar seu lugar na floresta, e nem quero.
Não curto comandar, a função que ali exerço é a que mais me agrada e me faz feliz.
Desbravar aquele local, me encantava, me fascinava e minha gentileza e educação,
são só parte da educação que recebi de casa.
Mas mal sabia eu que a velha que vivia a fiar, se irritaria com o meu sucesso em sua floresta.

De repente, o sol que tanto brilhava e acalentava meus dias, sumiu, e as nuvens juntaram-se
fechando o tempo, trazendo um enorme frio à Paris.
Desde então, eu não tenho vivido em paz. Tudo que faço é motivo de reclamação e broncas.
Ao ponto de que até a minha gentileza e agradabilidade passaram a irritá-la,
embora não sendo a única a sentir isso, dissera ela, que os meus colegas de habitação também
sentiam o mesmo. Criticou minha educação, por eu não ter sido educado em uma floresta,
e que por isso deveria parar. Questionei o porque? Mas você pensa que houve conversa?
Não. Ela somente disse é assim e pronto. Se quiser continuar em minha floresta, vai seguir a dança que eu decidir.

Em meio a tudo isso, eu e o leão de Nárnia, que vivíamos em paz,
como vínhamos vivendo há semanas, mais uma vez nos desentendemos.
A briga foi séria por uma coisa inútil, como ele mesmo disse, ridícula.
As relações cordiais foram estremecidas e, aparentemente, cortadas.
Fui acusado disso e daquilo pela velha fiandeira e pelo leão,
nem tive como me defender. Olhava para o céu e o sol havia sumido,
a escuridão tomara conta de lá, meu brilho sumira, minha energia deixara de existir.
Paris ficou inabitável, perigosa.
Não sei mais onde por meus pés e conseguir caminhar. Estou parado e perdido. Não enxergo um palmo à minha frente, por mais forte e clara que a lua se faça.
Mas não dizem que a esperança é a ultima que morre, enquanto é a primeira que mata?
Então, ao me matar, porém, antes mesmo de morrer por ultimo, eis que em meio à escuridão,
esbarro em uma mão. Uma mão que, seguramente, não estava perdida. Uma mão que, meio sem razão, me dera sustentação e um norte.

Começara ali a enxergar as primeiras coisas em meio ao escuro.
Não que tenha-se feito a luz, não. Apenas minhas pupilas dilataram e se acostumaram à escuridão.
Ficamos ali parados, a caminhar por Paris, conversando sem nos movermos, mas fomos em cada
canto dessa cidade fascinante. Não movemos se quer um fio de cabelo,
mas chegamos à Sacre Couer, ali mesmo em Montmartre.

Quando de repente comecei a sentir a textura da pele daquela mão
e me lembrei que a conhecia. Tinha alguns meses que não nos víamos,
e mesmo nesse tenebroso escuro, ela me encontrara.
Ah, minha querida e estimada Carmen, que tantos balangandãs moveu,
em seus shows, em sua jornada, em sua vida. Como é bom reencontrá-la!
Você conseguiu me dar coragem, para encarar esses dias nublados, e me deu de volta esperança, pelos os quais o sol, ao raiar, encandeará minha vida de alegria e felicidade, podendo curtir, outra vez, minha primavera, que quer se desembocar em um delicioso verão parisiense.
Obrigado, Carmenzita!