segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Vai, volta, sobe, desce.
Um iôiô perâmbula por uma corda
inconstante que treme a cada lançamento
e que tenta se estabelecer a cada recuperação.
Queda e recperação: dois princípios.
Princípios de lançamento e retorno;
de desconstrução e (re)construção.
A estrada percorrida acelera seu caminho
como uma esteira rolante desenfreada,
o ar me falta, o fôlego acaba, os pulmões secam.
O sangue escurecem, as células apodrecem,
a carne putrefa, sobram os ossos, os sentimentos atordoam,
explodem, distorcem, distoam, acabam.

quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Que frio.
As coisas estão gélidas. Os corrimões queimam a epiderme.
A torre nunca esteve tão inóspita, mesmo com pessoas caindo aos montes,
devido à sua lotação está máxima.
Na verdade, a torre nunca esteve tão...
... desencantada. Ela nunca esteve tão distante dos meus olhos, de mim.
 Na verdade, Paris perdeu a graça.
Sim, isso é verdade. Por mais estranho que possa soar, não há mais graça em Paris.
É tanto frio num sol a pino, que sufoca minhas células, ao passo que elas tentam respirar.
E eu começo a necrosar. Putrefarei. Não, decomponho.
Arranco as células que decretaram suas mortes, a fim de deixar que as próximas nasçam com vidas, mas não adianta.
As segundas, já estão necrosadas, devido às primeiras. Assim acontecem com as terceiras, devido às segundas; com as quartas, pelas terceiras e assim as horas se esvaem, minha carne brota, aquele liquido vermelho, escurece e tudo começa a apodrecer.
Justamente a torre, aquela torre que me prometia dias felizes, hoje, é o que mais faz com que me sinta só, triste, destruído.
Sinto-me longe da Paris tão amada, desejada e que um dia já me fez feliz. Ao subir no segundo andar da torre, a solidão é tão intensa, que o terceiro me causa morte súbita.
O medo de chegar às grades faz-me ficar parado ao fundo, quase preso, entrelaçado naquele emaranhado de aço soldado.
Eu olho à frente e as coisas, pessoas, prédios, seres, cada vez ficam mais longe. É como se eu entrasse em um túnel, em um buraco negro, sei lá, e, segundo a segundo, eu me afundasse nele.
O ponto de fuga fugindo de minhas mãos, deixando de ser palpável, de ser visível, concreto, viável, findável.
Eu grito, peço ajuda, não escutam, eu não escuto. O silêncio paira e me ensurdece.
Meus braços se tornam galhos, meus pés, raízes, minha voz, seiva bruta, queria elaborada. Tudo me trava.
Começo a percorrer meu corpo com minhas mãos, tento despertar meu tato, meus tecidos, células, órgãos, organismo, mas nada reage. Tudo foi decomposto, morto, apodrecido.
Nada sai, o temor, o medo, a dor, a tristeza, tudo, entra. Tudo me corrói. Não consigo entender o que se passa.
O que acontece em mim, que empata minha reação. Tudo está em mim, a vontade, o desejo, a coragem, o ímpeto, o clamor, o fogo do grito da liberdade, mas quando a porta do calabouço está a um passo de explodir, tamanhas são as rachaduras que minhas unhas provocam, o vácuo me suga, o buraco negro, o túnel me engole.