quinta-feira, 13 de agosto de 2015

Tristeza é uma coisa chata.
chata, mas essencial de ser vivida e sentida.
Você é magoado, decepcionado, e ainda te cobram sorrisos.
Desculpem-me os que esbravejam fortalezas,
mas a tristeza nasceu pra ser vivida.
Seus dias não são feitos só de glórias.
E quem nunca desconfiou do seu deus, que atire a primeira pedra!
Mas antes de atirar, perceba se seu telhado não é de vidro.
A tristeza corrói e se encrosta em sua corpo,
como se tivesse nascida em seu DNA.
Eu estou triste. E não há fortaleza maior do que assumir suas fraquezas.
Sempre assumi as minhas. Nunca precisei me esconder,
muito menos atrás de um muro, supostamente, blindado,
e ainda por cima sendo blindado pela blasfêmia do nome do seu deus.
Dói, mas dói muito. Cada vez que caio que enfraqueço, a dor é, assustadoramente, maior.
E por algum milagre, talvez do meus deus, levanto, cheio de feridas, e ando.
Mesmo que ande vislumbrando a próxima queda, ando.
Sim, não fui criado para a força, mas fui criado para ser forte.
Fui criado pelo meio vivente a cair, mas ser forte o bastante pra levantar e estar pronto para a próxima.
Fui criado para ser forte, não para a força. Fui criado para ser humano, não um ciborgue.
Fui criado para ser forte, não para a força. Fui criado para ser gente, para sentir, para rir,
e mesmo que chore, para chorar.
Fui criado para ser humano, fui criado para a vida, fui criado para ser forte.
Minha fé é cética. Creio no que vejo, percebo e/ou sinto.
Raciocino minha fé, minhas crenças, o meu deus. Raciocino a vida.
Blasfemei e blasfemo. Não tenho medo disso. Fé não discerne caráter,
apesar de que os cegos de fé julgam o próximo.
Se dizem tão veementes em sua fé, que discriminam e não aceitam os demais.
E o seu deus? Sim, o seu deus? O mesmo que gera sua fé, que gera seus ensinamentos, onde fica a pregação do seu deus?
Minha fé é cética, mas respeitosa o suficiente para se esforçar a compreender o próximo e aceitá-lo como é.
Minha fé não determina caráter, determina bondade ou maldade.
Minha fé crê no que vê, percebe ou sente, jamais numa suposição.
Minha fé remove as minhas montanhas, que não tenho a obrigação de ser  as mesmas do próximo.
Minha fé promove bondade, aceitação, discernimento, sabedoria.
Minha fé também promove raiva, indignação, mágoa, decepção, rancor...sim, ela promove. Eu sou humano.
Fui criado para ser forte, não para a força, que causa a intolerância às coisas e/ou ao próximo.
Não enxergo um futuro para além da minha dor, da minha tristeza.
Há quem tente me convencer, e até se esforce, para me mostrar que há um futuro além da minha dor e da minha tristeza.
Em algum lugar de mim, eu sei que é verdade, e vislumbro um futuro
tortuoso, indeciso, mas, na real, só consigo ter a sensação de que ele existe.
Mas estou triste. Já fui triste, agora, é só um estado, a minha tristeza.
E nesse estado, por mais passageiro que imponha-se em ser, ele é tão denso,
que por mais que olhe para frente, só vejo tudo embaçado
sem cores de Almodóvar ou de Frida Kahlo, ou apenas cores.
Um embaçado, que traceja um semblante de um futuro além da dor, além da tristeza.
Só o tracejo traz um fio de esperança, mas enquanto a esperança não for concreta, de nada adianta um fio, afinal, minha fé é cética.
Ah, a minha tristeza, companheira das minhas horas, lágrimas que caem compadecidas dela e da dor, santas são vocês, lágrimas, que rolam para esvair a vontade de nada fazer, de viver, e que nos deixam secos, vazios, como um corpo exumado. São vocês, santas lágrimas salgadas, que até são gostosas quando nos caem no paladar, são vocês que ao secar o que há dentro, deixa a terra semeada para o dia que se seguirá ser plantado e ao final dele, colhermos os frutos, inclusive e, principalmente, os estragados. E o ciclo recomeça.
E vocês, lágrimas, nos secam e nos esvaziam tanto, que os frutos estragados vão deixando de ter espaço nessa horta e apenas os bons passam a crescer, apenas os bons frutos: o amor próprio, a auto estima e o futuro além da dor, são os únicos que passam a crescer e assim, vocês, lágrimas, cessam de secar e passam a encher e a nutrir esse solo recém produtível, não mais arenoso.
Minha fé é cética, fui criado para ser forte, e eu sou.